Francisco de Assis – o amor que deixa marcas 3



Francisco estigmatizado é o corpo traspassado de um desejo profundo. É o corpo que se fez portador da vontade do Senhor assim como Maria: “Faça-se em mim segundo a tua Vontade!” Maria deu-nos o Menino, o Emanuel, o Deus Conosco. Francisco no Deus o Cristo Pobre, Humilde e Crucificado. Greccio e Alverne se encontram na mesma verdade! Este Corpo arde e fala! Este corpo concretizou encontros e rupturas. Deu todos os bens para abraçar a Pobreza. Deu todo o afeto para abraçar o leproso. Deu toda a sua pureza de coração para abraçar a fraternidade. Deu todo os seus ouvidos ao Crucificado de São Damião que pediu a reconstrução da casa. Deu um novo início ao Evangelho transformando- o em Forma de Vida.

No corpo estigmatizado de Francisco a impressão de sua vida inteira, estigmatizada pela Pobreza, Obediência e Pureza de Coração. No corpo de Francisco as marcas de sua marginalidade assumida, pois foi rejeitado por nobres e cidadãos de sua época.  No corpo de Francisco o Amor devorante de Deus e por Deus, um Amor capaz de assumir a fraternidade dos marginalizados da sociedade oficial. Como o Amado ele também abraçou os cegos, os camponeses, os paralíticos, os que não podiam ganhar nada para viver, as mulheres que não podiam nem falar e nem seguir fora da vigilância das autoridades. Ele assumiu em si os estigmas sociais de seu tempo. Não foi um bode expiatório, sim um reformador fraterno de um modo mais leve de viver o Evangelho.

No corpo estigmatizado de Francisco a responsabilidade de conduzir uma Fraternidade que nele acreditou e que não tinha onde reclinar a cabeça. Eram peregrinos e viandantes, vivia com os seus companheiros primitivos   a beleza de estar no mundo como um claustro transitório. Neste mundo encontraram a criação que restituíram ao Criador, pois viram nela a fonte da beleza, do louvor e da graça, podiam falar da Criação como uma consanguinidade familiar, um laço universal que autoriza a falar de todas as criaturas como irmãos e irmãs. Devolveram tudo para não ter posse e inveja de nenhum acúmulo. Viveram uma metamorfose ambulante.

No corpo estigmatizado de Francisco a consolação bela e prudente da serena irmã e companheira, Clara de Assis! Ela entendeu que a Cruz tinha que ser guardada e cuidada para sempre, e que Francisco era seu Espelho. Francisco foi ao mundo levar o Evangelho. Clara ficou no claustro para reviver o ventre de Maria. O Amor tem que ser concebido cada dia. Francisco teve que sofrer pela liberdade de Clara, mas os dois foram muito felizes na liberdade do Amor. A natureza do Amor foi reconstruída como o verdadeiro claustro. Em Clara, a vida do Mosteiro é matriz na qual cada dia a palavra de Deus vem ao mundo. Clara não é apenas uma seguidora de Francisco, ela beija o sangue dos estigmas que ele conquistou e bebe na mesma Fonte.  Diz Angela de Foligno: “Na plenitude de Deus, eu colho o mundo inteiro, além de tudo, dos mares e dos abismos, do oceano de cada coisa. E em tudo, não percebo outra coisa que não seja a potência divina, de modo inenarrável. Então, no ápice da admiração, a minha alma exclama: esta natureza de Amor é grávida de Deus!” (Angela de Foligno, Memoriale, VI, 1285-1298 ).

No corpo externo estigmatizado de Francisco o esponsal com o corpo interno, a sua vida interior, marcada pelo Amor ao Crucificado. É uma prova evidente: ele que tocou com o Amor toda a obra de Deus, foi tocado com muito Amor pelo próprio Deus. Não é dor corporal, mas sentidos da vida que passam pelo crivo da entrega mais radical por Amor. Francisco não somatizou a dor, mas sim deixou que o Amor marcasse seu corpo. Ele e o Amor tornaram-se Um!

FREI VITÓRIO MAZZUCO

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