Francisco de Assis e o estudo



Diz a Legenda Maior: "De vez em quando, lia os livros sagrados e imprimia tenazmente na memória o que uma vez por todas havia colocado na mente, porque ruminava com o afeto de contínua devoção o que havia captado, não em vão, pela audição atenta da mente. Aos irmãos que uma vez perguntaram se lhe agradava que os irmãos letrados recebidos à Ordem se dedicassem ao estudo da Sagrada Escritura respondeu: “Claro que me agrada, contanto que a exemplo de Cristo, sobre quem se lê que mais rezou do que leu, não omitam o empenho da oração e não estudem somente para saber como devam falar, mas para que pratiquem as coisas ouvidas e, quando as tiverem praticado, as proponham aos outros para serem praticadas por eles” (LM XI,1).

Muitos afirmam que Francisco de Assis era contra o estudo; é um erro fazer esta afirmação, pois muito incentivou os estudos na Ordem. Ele mesmo tinha estudos, embora não fosse um acadêmico. Frequentou a escola episcopal junto à Igreja de São Jorge em Assis, onde aprendeu rudimentos de latim, com sua mãe aprendeu um pouco de francês, decorava antífonas e hinos litúrgicos, sabia muitos versículos de salmos que trazia na memória, cantava canções de gesta cavaleiresca, escrevia cartas, preces, fez um belíssimo comentário ao Pai Nosso, e ditou Regras.

Motivou os frades aos estudos e recebeu intelectuais na Ordem, entre eles Santo Antônio e Tomás de Celano, e mais tarde São Boaventura entre tantos. Pede numa Carta a Santo Antônio: “Apraz-me que ensines a Sagrada Teologia aos irmãos, contanto que, nesse estudo não extingas o espírito de oração e devoção”. O que ele quer é que a ostentação e a vaidade da ciência não tomem conta de seus irmãos. O saber não tem força em si se não vier da Sabedoria que vem do Alto.

Ensinar é puro serviço. O conhecimento tem evidências necessárias para a vida, mas não pode ser usado para explorar, acumular bens, ou diminuir os que sabem menos. Porém, todo estudo deve levar a uma grande prática feita por Amor. Todos devem ensinar como quem reza. Francisco de Assis não quis ser um doutor em teologia ou espiritualidade; renunciou qualquer título por viver a minoridade, contudo sobre ele escrevem muitas teses, ensaios, artigos, pesquisas, livros, bibliotecas inteiras! É o Santo mais estudado do mundo, como evocação, memória, e profunda compreensão da existência.

FREI VITÓRIO MAZZUCO

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