Clara e Francisco, namorados?


Esta pergunta me fazem milhares de vezes. Perguntas são melhores que respostas. Não tenho respostas, tenho modelos: Francisco de Assis e Clara de Assis evidenciam que o fundamental da vida humana é relacionar-se. Amaram a Deus como Alguém real e não como abstração; deixaram suas casas para conquistar a liberdade de amar e repartir. São enamorados do Amor que os fez livres para fazer suas escolhas. Viveram em meio a todos porque souberam sair de si e deixar transparecer amor, ternura, pureza, vigor, prece e ardor. Namoraram as palavras do Evangelho e fizeram parte do sonho de Deus: o amor tem que transformar tudo em homens novos, mulheres novas, mundo novo, Boa Nova proclamada de cima dos tetos. Namoraram, olhos nos olhos, um Crucifixo Glorioso. Francisco reconstruiu um lugar para Ele. Clara embalou em extasiado silêncio o mistério que Dele emanava: ser Amor em pé entre escombros. Iluminaram-se de preces, a linguagem mais expressiva de quem ama; incendiaram um bosque num banquete santo, éros sublimado em ágape, porque amar é alimentar-se.

Namoraram as chagas dos leprosos e mendigos descobrindo sentidos em meio ao podre. Francisco foi pelas estradas do mundo, Clara permaneceu no mundo fontal de todos os passos: a contemplação. Os dois abraçaram a Pobreza na Riqueza de Amar. Abriram seus corações e braços para abraçar o cosmo inteiro. Gosto demais de uma canção de Frei Acílio Mendes, OFMCap, que diz: “Na paz fecundante de São Damião. Os sonhos floriram e amadureceram! As rosas da Páscoa, os lírios da Paixão. A vida de Clara com amor teceram. Francisco é do bosque, Clara é do jardim. Francisco é do rio, Clara é da fonte. Clara e Francisco são do mar sem fim. Ela desce a gruta, ele sobe ao monte. Francisco é do Alverne, fascinante de luz. Clara é da planície, serena e interior”.

Clara e Francisco nos ensinam a reconstruir o Amor e feliz com Ele! Não se faz feliz alguém, mas se faz feliz com Alguém! É preciso colocar o Espírito no interior dos relacionamentos. Foram Clara e Francisco namorados? As Fontes Franciscanas e Clarianas silenciam. Os historiadores dizem que é impossível. A nossa imaginação ferve. As estradas do mundo falam. O mosteiro reza e canta o Amado. Não interessa o que eles foram entre os dois, mas sim o que foram a partir dos dois: aceitaram ser instrumentos de Amor nas mãos do Altíssimo, Esposo e Espelho. Fizeram do Amor um estado de ser, o fazer foi consequência disto. Desprendidos e naturais, tornaram o feminino místico e o masculino sensível.

Santos e fraternos, paternos e maternos, serenos e cordiais, Irmã e Irmão, profundamente humanos e divinos. Na verdade queria escrever algo para o Dia dos Namorados, e resolvi tirar do meu coração o modelo vivo e referencial do casal de Assis, que nunca viveu junto, nem morou junto, mas que reúne há oito séculos tanta gente apaixonada, desde os umbrais da Úmbria até os universais caminhos do Amor! Que Clara e Francisco iluminem e protejam todos os Namorados!

FREI VITÓRIO MAZZUCO



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