O ANO SANTO DA MISERICÓRDIA - Perspectivas Franciscanas - 14


Fundamental na espiritualidade franciscana é o tema da reconstrução da casa, reconstrução da vida, reconstrução da pessoa, reconstrução dos valores, reconstrução de qualquer tipo de ruína ou decadência. A misericórdia coloca novamente em pé tudo o que experimenta o descuido.

Francisco sente-se olhado pelos olhos penetrantes do Crucificado de São Damião. Pede que Ele ilumine as trevas de seu coração. O que nasce daí o leva para abraçar o que a humanidade tem em suas necessidades: ser amada. Não é qualquer amor, mas ser amado do jeito que Deus ama. Misericórdia é olhar para onde falta luz e acender aí uma chama. O que precisamos acender e iluminar  no   mundo?

Precisamos iluminar o nosso modo de ver, com mais percepção, com mais sensibilidade. É preciso pedir e estar aberto para receber a misericórdia. Na Legenda dos Três Companheiros, Capítulo 5, vemos que: “Certo dia, quando implorava mais fervorosamente a misericórdia do Senhor, este lhe mostrou que muito em breve lhe seria dito o que deveria fazer”.

A consciência dos limites (miseri) pode colocar em situações de crise, de dúvidas, questionamentos e a não nitidez do que se quer realizar. Há certos momentos que nos encontramos numa encruzilhada sem saber para onde ir. É preciso então abandonar-se no Coração de Deus na certeza de que Ele vai mostrar uma saída. A revelação não vem a partir do nosso tempo, mas no tempo de Deus. Mas é preciso pedir, implorar com mais fervor, recolher-se, orar e ocupar-se. Há momentos em que a prece é um grito de misericórdia. Apelos fazem parte da crise. Buscar sempre, pedir sempre, agradecer sempre, confiar sempre, abre um caminho de luz. Buscar a realização, cultivar a realização é contar com a misericordia do Senhor.

A misericórdia garante a verdade de que não estou só. Existe um Deus, que existe pessoas, que existem todos os seres no solidário caminho do acolhimento e cuidado. A misericórdia nos traz irmãos e irmãs para a convivência. A proximidade de todos oportuniza um encontro com Deus nos múltiplos gestos de amor. É com os outros que aprendemos a dimensão samaritana do Evangelho. Temos que aprender a cuidar das pessoas que se apresentam no caminho, umas podem estar caídas e feridas, outras vão abrir a hospedaria, outras vão passar adiante, mas alguém vai parar e realizar atos de amor (cf Lucas, 10, 25-37).

Continua

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