O ANO SANTO DA MISERICÓRDIA - Perspectivas Franciscanas - 1


Nosso olhar, gestos, leituras, práticas, celebrações e intensa comunhão eclesial voltam-se para a grande atração espiritual que ilumina nossas vivências: a Ano Santo da Misericórdia. Iniciamos no dia 08 de dezembro de 2015 este tempo importante para a Igreja, para os cristãos e para o mundo, e vamos seguindo dia a dia, em sinais concretos que apontam ações concretas de santidade, graça, reconciliação e atuação. A finalidade desta reflexão é propor a pergunta:  para a Família Franciscana, este Ano tem um significado próprio, personalizado, e com olhar específico para a o rosto da Misericórdia em nossas Fontes, e que isto tenha uma incidência em nosso modo de ser, fazer e estar no mundo?

Não quero apenas retomar a força movente da conversão franciscana ou os acenos desta espiritualidade, nem forçar nenhuma aproximação histórica do Ano Santo com os primeiros séculos da presença franciscana, mas pensar do nosso modo este momento tão forte para todos. São Francisco de Assis (1182-1226) viveu numa época anterior a proclamação dos Anos Santos que se seguiram através dos tempos e que de um modo oficial e solene iniciaram no dia 22 de Fevereiro de 1300, com o Papa Bonifácio VIII (cf. “Antiquorum habet fida relatio”). A pregação franciscana não ficou à parte do alcance evangelizador dos Anos Santos na tradição cristã, inserindo neles sua experiência vital.

Há valores muito evidentes que podemos elencar neste grande evento da Igreja. Valores históricos e valores espirituais bem ancorados no chamado bíblico para os Jubileus segundo a prescrição: “Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, isto é, o tempo de sete semanas de anos, quarenta e nove anos. No sétimo mês, do décimo dia do mês, farás ressoar o toque da trombeta. No dia das Expiações. Fareis soar a trombeta em todo país. Declararei santo o quinquagésimo e proclamareis a libertação de todos os moradores da terra. Será para vós um jubileu: cada um de vós retornará a seu patrimônio, e cada um de vós voltará ao seu clã. O quinquagésimo ano será para vós um ano jubilar: não semeareis, nem ceifareis as espigas que não forem reunidas em feixe”  (Lv 25, 8s). As prescrições, de caráter social e econômico para o povo hebreu, assumem valores espirituais na instituição eclesiástica inaugurada por Bonifácio VIII, como um caminho, como uma peregrinação penitencial e de ação de graças ao túmulo dos Apóstolos em Roma, como veneração e memória, como compromisso de unidade de fé e de indulgência. O Ano Santo absorve a forte peregrinação presente nos séculos XII e XIII com grande acento devocional, uma florescer da religiosidade popular que caminha por amor a Deus, tem ânsia de perdão e de paz.

Frei Vitório

Continua

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