ANO DA VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA - Alguns Apontamentos - XI


56. Na Carta a Diogneto, os cristãos não se distinguem dos outros pelo modo de vestir, nem habitam em lugares isolados. São do mundo, mas têm um modo diferenciado de viver no mundo pela qualidade de seus atos. São no mundo o que a alma é no corpo. Tertuliano rejeita qualquer fuga do mundo para que não se repudie nenhuma obra do Criador. A ascese nasce na Igreja como exemplo do modo de viver o Evangelho. São exemplos consideráveis de intensa espiritualidade. Não existe fuga do mundo, mas reagrupamento de modo de viver comunitariamente. A palavra monge veio pelos que viam de fora os que escolhiam viver retirados. São Basílio Magno é o Padre dos Monges Orientais e não usou o vocabulário monacal. Os de fora viam estes como “um animal monástico”. Mono = um, isolado, feito para a solidão. Mas não conseguiam entender que não havia solidão, mas o dom de estar só, com Deus e com a comunidade. A palavra Monge ganha depois um sentido teológico espiritual: só com Deus em perfeita unidade com o Divino e suas obras. “Como é bom e suave que os irmãos habitem entre si!”

57. Não pode haver uma Vida Una que não seja em Deus, no Amor e pelo Comum. Unidos para formar uma só Unidade. Muitos corpos, mas uma só alma. Irmãos e Irmãos que habitam juntos, é a essência da vida monástica. A mãe da comunidade é a Caridade! Uma vida de silêncio, prece, trabalho e convivência. Empenho na prática da virtude e busca da perfeição cristã. Daí nasce uma forte Espiritualidade Cristã. Viver nos mosteiros significa focar a vida para conseguir o mais pleno desenvolvimento da vida cristã e a maior imitação da natureza divina. O verdadeiro cristão, a verdadeira cristã tem que ter traços dos verdadeiros santos e santas. Mas o que conta é o que o Amor e o que Deus quer de cada um, de cada uma! O modo de ser de Deus encarnado no modo de ser pessoal. No início não existiam Regras. “Enquanto defende a túnica regular perdes a túnica de Cristo que é a túnica da caridade”.

58. No decorrer da história, embora na história tudo possa ser uma representação, e uma leitura histórica não possa ser feita num único sentido, existe um lento e gradual processo de desenvolvimento da Vida Religiosa Consagrada. Há alguns fatores! O fator sociológico é que ser monge e pertencer a um grupo religioso dá prestígio, sobretudo no estado de vida monástico. Dentro dos mosteiros e fora deles havia uma decadência da vida cristã. Em menos de um século, a Igreja passa de perseguida à perseguidora. Cresce muito, mas não mantém a qualidade. Existem conversões em massa, mas isto não ajuda porque não há perseverança. Inicia-se uma contestação heroica e silenciosa contra o relaxamento da vida cristã. Um retorno mais original ao Evangelho, um retorno corajoso ao Espírito de Pentecostes. Para fugir das perseguições alguns fogem para lugares desertos ou para a clandestinidade de grupos cristãos. Ali permanecem e vão moldando um novo modo de vida. Não basta a salvação, mas é preciso buscar a perfeição. Isto é reservado a poucos, porque muitos não conseguem. O fato exegético-bíblico é que estes cristãos, por uma necessidade de motivação, autojustificação e encarnação procuram buscar na Palavra de Deus uma explicação superior para a sua escolha e encontrar na Palavra a sua identidade. É uma motivação preferencial em comparação com os cristãos que ficavam nas casas e no mundo. Mas há o risco de traduzir o Evangelho direcionado para um único sentido: viver de um modo religioso consagrado. O fato jurídico administrativo ancora-se na norma jurídica canônica. Aparecem as Regras e Constituições. Há uma estruturação social de uma inspiração. De uma comum vocação cristã passa-se a vários estados de vida. Mas a administração jurídica não atrapalha, mas reforça a diversas vocações cristãs. É preciso organizar os grupos que se reúnem por Amor. A Vida Religiosa Consagrada entra na disciplina pessoal e comum da Igreja, um modo de vida dentro de uma sociedade eclesiástica.

Continua

Comentários