São Luís de França e os Franciscanos - IV

Vitral do casamento do Rei Luís IX
Frei Sandro Roberto da Costa, ofm

1.2 Um santo leigo!
Diferentemente dos santos de seu tempo, Luís é um santo leigo, e é casado. Isto não deixa de ser notado pela maioria de seus biógrafos: santo, apesar de ser leigo e casado! Humilde, piedoso, virtuoso, Luís, no entanto,  continua um leigo, não é um sacerdote[11]. É, sobretudo, casado, pai de família, que não renuncia às obrigações e prazeres conjugais e à sexualidade, submetidos aos ditames da lei da Igreja, como os “dias de resguardo”[12]. Luís vai ser pai de onze filhos, três dos quais nascem durante sua permanência no Egito. Sua mulher o acompanha na peregrinação. Sua biografia, a primeira vida de um santo escrita por um leigo, vai priorizar elementos que normalmente não se destacavam nas biografias, quase todas escritas por eclesiásticos e sobre clérigos: Jean de Joinville vai pôr em relevo, na vida de Luís, sua relação com a sexualidade, com a guerra e a política. É um rei que vai à guerra, que combate valorosamente, inclusive nas cruzadas, mas é, ao mesmo tempo, um rei de paz, que tudo faz para mantê-la, através dos tratados e negociações.
Isso não o impede de exercer bem suas funções em favor do povo. Coadjuvado em grande parte pela astúcia política de sua mãe, Branca de Castela, Luís conseguiu estabelecer a paz e a harmonia no reino. Isso foi conseguido após árduas batalhas, mas também através de hábeis negociações e uma série de tratados, onde não faltaram os matrimônios arranjados entre os irmãos do rei e as filhas da nobreza de reinos circunstantes, em função da pacificação e do fortalecimento dos laços do reino com outras potências. Outra frente de atuação de Luís foi a organização das finanças. Em política, Luís tentou instaurar um código de conduta especificamente cristão.





[11] Quanto à pertença de Luís à Ordem Terceira Franciscana, nada consta de uma efetiva profissão, que, por outro lado, nem era comum naqueles inícios da Ordem. Ele é, de fato, Terceiro Franciscano, e a justo título Patrono da Ordem Terceira, pela seriedade com que assumiu em sua vida, enquanto leigo, os valores franciscanos. Já a iconografia que o representa como membro da Ordem franciscana é tardia. Por volta de 1330, Giotto (+1337) pintou um afresco na capela Bardi, na Igreja de Santa Cruz, dos franciscanos de Florença. Nesta capela, que servia de local de reunião dos terceiros florentinos, São Luís aparece segurando o cordão franciscano. A iconografia representando São Luís como pertencente à Ordem Terceira vai se multiplicar: 1330, afresco na capela de São Francisco, de Lucca (Itália), hoje perdida; 1450, desenho na obra Armorial d’Auvergne (França), pintado por Guilherme Ravel; terracota de Andrea della Robbia (1435-1525), representando São Francisco entregando a Regra a Santa Isabel e a São Luís. As representações seguem este padrão,  em afrescos, quadros e pinturas nas principais igrejas franciscanas, continuando a tradição que se afirma após a canonização: Luís de França pertenceu à Ordem Franciscana. O Ofício dos Terceiros, de 1550, afirma que “Luís se associou a São Francisco porque a Regra da Penitência dirige seus passos”.  
[12] Seu biógrafo, Jean de Joinville atesta: “Nunca um homem leigo de nosso tempo viveu tão santamente durante todo o seu tempo, desde o começo de seu reinado até o fim de sua vida”. Seu papel de pai dedicado aparece nos Ensinamentos que deixou a seu filho. A obra  reforça a imagem do tipo ideal de soberano cristão, suas regras de conduta moral e política. Delaborde Henri-François. Le texte primitif des Enseignements de saint Louis à son fils. In: Bibliothèque de l'école des chartes. 1912, tome 73. pp. 73-100. Doi : 10.3406/bec. 1912.448470. http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/bec_0373-6237_1912_num_73_1_448470    

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