Francisco de Assis, modelo referencial do humano – XVIII

Francisco de Assis deixou-se conduzir por Deus, mas sempre mergulhado na terra, irmão de toda criatura. Não quis ser dono ou senhor de nada e de ninguém, quis apenas ser o irmão da água, do fogo, do sol, da lua, dos pássaros, das florestas e das plantas, captando assim que a vida é parte de um todo. Colocou-se na esteira admirável do engrandecimento e respeito por todo ser criado, nada destruindo, nada ferindo, nada prejudicando, quase que pedindo licença para pisar a terra, desculpando-se com seus irmãos e irmãs criaturas por não servi-los bastante. Vejamos o que nos dizem as Fontes Franciscanas:

“Quanta alegria julgas que a beleza das flores lhe trazia à mente, quando ele via a delicadeza da forma e sentia o suave perfume delas? Voltava logo o olhar da consideração para a beleza daquela flor que, brotando luminosa no tempo da primavera da raiz de Jessé, ao seu perfume ressuscitou milhares de mortos. E quando encontrava grande quantidade de flores, de tal modo lhes pregava e as convidava ao louvor do Senhor, como se elas fossem dotadas de razão. Assim também, com sinceríssima pureza, admoestava ao amor divino e exortava a generoso louvor os trigais e vinhas, pedras e bosques e todas as coisas belas dos campos, as nascentes das fontes e todo verde dos jardins, a terra e o fogo, o ar e o vento. Enfim, chamava todas as criaturas com o nome de irmão e, de maneira eminente e não experimentada por outros, percebia com agudeza as coisas ocultas do coração das criaturas, como quem já tivesse alcançado a liberdade gloriosa dos filhos de Deus”.

“Tendo pressa de sair deste mundo como de um exílio de peregrinação, este feliz itinerante era auxiliado pelas coisas que estão no mundo, e realmente não pouco. Usava o mundo como campo de batalha, mas também o usava, com relação a Deus, como espelho limpidíssimo de sua bondade. Em qualquer obra de arte, ele exalta o Artífice e atribui ao Criador tudo o que descobre nas coisas criadas. Exulta em todas as obras das mãos do Senhor e intui, através dos espetáculos do encantamento, a razão e causa que tudo vivifica. Reconhece nas coisas belas aquele que é o mais Belo; todas as coisas boas lhe clamam: “Quem nos fez é o Melhor”. Por meio dos vestígios impressos nas coisas ele segue o Amado por toda parte e de todas as coisas faz para si uma escada para se chegar ao trono.

continua

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