ITINERÁRIO A ASSIS - 18



Chegamos a Greccio, ao Santuário do Presépio, a mística da Encarnação, lugar que mexe com a nossa intimidade. Entrar em Greccio é como voltar ao ventre da mãe e ser trazido novamente à Luz! Francisco veio a este lugar em 1217 e, desde então, suas profundas marcas aqui estão. Subiu a montanha, abasteceu-se da força divina e descia para pregar ao povo. A aldeia de Greccio ouvia encantada a pregação do Santo e não queria que ele nunca mais fosse embora e arrumaram um jeito dele ficar.

João Velita, homem rico da aldeia, ajeita um terreno no bosque que o Santo pede para ser  mais retirado da aldeia, distante na medida de um tiro de pedra. Diz a lenda que pediram a uma criança que atirasse uma tocha o mais longe possível, onde ela caísse, despenhadeiro acima ou abaixo, ali seria o lugar; para a surpresa de todos a tocha foi parar a três quilômetros de distância. Ali escavaram as grutas e espaços para alojar Francisco e seus frades. Pura lenda, mas carregada de significação: o lugar do recolhimento é sempre um lugar indicado pela Luz.

Entre 1223 houve a famosa celebração de Natal, onde Francisco escolhe um canto no meio da floresta, faz uma manjedoura na fenda da pedra, e foi compondo com frades e o povo da aldeia os personagens do Presépio; uma encenação teatralizada do Nascimento do Senhor, o primeiro Presépio que se tem notícia depois daquela Luminosa e Gloriosa noite em Belém. Greccio é a atualização de Belém. Hoje neste ponto celebrativo tem uma capela dedicada a São Lucas.

Leão, Rufino e Ângelo escreveram, na instigante inspiração de Greccio, os trechos da Legenda dos Três Companheiros, tem até uma carta com dia mês e ano comprovando o relato dos três que também passaram um bom tempo neste Eremo. A Legenda dos Três Compnaheiros é a mais pura revelação de um ideal nascivo,  gestado sob a fecundidade divina. Greccio é um útero, seio, ventre... lugar de um novo renascer.

Hoje, o Eremo é um santuário cravado e pendurado na rocha; simplicidade e imponência, permanência e fortaleza; é como se fosse um grande ouvido colado para uma grande escuta dos ecos do Absoluto. Por dentro dele podemos ver o primitivo refeitório, um quartinho de São Francisco, a cantina, o pequeno e surpreendente dormitório dos frades, a capelinha e o coro, relíquias do bem aventurado João de Parma, o púlpito onde São Bernardino de Siena pregava.

Celebramos a missa na igreja nova, construída em 1960 e dedicada à Imaculada Conceição. Esta igreja é de uma beleza indescritível! Que celebração! Bem preparada, bem cantada! Destacamos o significado do Presépio, da Encarnação, da Fecundidade de um Deus e da Sagrada Família. Na ocasião comemoramos as Bodas de Pérola de Cidinha e Luiz Fernando, 30 anos de matrimônio. Depois permanecemos rezando e contemplado a igreja, onde o foco é a Encarnação. Sobre ela tem uma exposição internacional de presépios, que só de contemplá-los podemos deixar de lado qualquer texto para a edificação do espírito.
Assim na parte da manhã fomos ver e apreciar este espaço onde se fez o fervoroso e real presépio franciscano. Sentir que lá estão vivas as fortes palavras dos pregadores, a santa presença dos que conservaram a pureza do ideal, a contemplação da onipotência de um Deus que se revela na simplicidade de um Menino. O lugar é um espelho de pequenez e pobreza, humildade e piedade, oração e penitência. Ficamos ali toda a manhã  extasiados e magnetizados pela beleza do lugar. Foi um dia chuvoso, nublado e sem o brilho do sol que encontramos nos outros dias, deste final de verão, na Itália, mas como isso ajudou a nossa compenetração!

À tarde, fizemos uma opção, cancelar uma ida a Rieti e voltar para Greccio para momento de deserto, oração, silêncio, retiro e contemplação. Começamos pela a aldeia de Greccio, a  6 km acima do santuário e depois voltamos para um  mergulho profundo no eremo. Tarde forte de prece! Conseguimos estar juntos para rezar, só o nosso grupo, na capelinha do primeiro Presépio e dali cada um escolheu seu canto de paz, silêncio e meditação. O Irmão Sol veio conosco na tarde e pediu que a Irmã Névoa abrisse o horizonte para que contemplássemos a incrível beleza da paisagem, lá em embaixo no vale, já que estávamos há 638 metros de altura.

Assim passamos o dia todo dando-nos à Luz, neste difícil parto de ser contemplativo, de entrar e sair do mais profundo de nós mesmos, de recolhermo-nos, de afastar nossas precipitações e ansiedades, de não ter preocupações, de não ficar ligados em tudo o que nos distrai... Certamente, após um dia de viver dentro literalmente de um espaço sagrado:  nascemos de novo!

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Comentários

Anônimo disse…
Ah, Greccio, o Presépio de São Francisco; uma exposição de presépios; estar no local original do primeiro deles; estarem lá juntos, apenas o grupo e rezarem.
Que beleza de vivências ...

Abraços para todos.
Denise.

PS- Frei Vitório, deixo a sugestão de que o senhor escreva um livro desse intinerário, dessas vivências, seria bom para os que não podem ir e útil para os que desejarem e puderem fazê-lo algum dia.
Rosana Padial disse…
Amo esta imagem do post em que podemos ver a Madona amamentando o menino Jesus!! Ela se basta para clamar todo o cuidado que a Vida necessita
PERMANENTEMENTE!!!!