A Trindade, Francisco e a nova criação - 12


Continuação do subtítulo Caminhos da reflexão teológica
Mas como se há de entender a comunhão das pessoas divinas? Essa tendência se obriga a construir uma categoria que funcione como chave da compreensão radicalmente trinitária de Deus que, por um lado, supera o simples monoteísmo da tradição abraâmica (judaísmo e muçulmanismo) e, por outro, evita o politeísmo na forma de triteísmo (Pai, Filho e Espírito Santo como três deuses). Essa categoria se chama pericórese, divulgada pelos teólogos da Ortodoxia, especialmente a partir de S. João Damasceno (morreu em 750). Como não existe tradução adequada para esta palavra (os medievais usavam circumincessão e circuminsessão; pericórese quer dizer: circularidade e inclusão de todas as relações e de todos os seres relacionados. Relação de mútua presença e interpenetração entre Deus e o Universo ou entre as Três Pessoas Divinas entre si e com toda criação) a utilizamos assim em português. O sentido é sinalizar a inter-retro-relação que as divinas pessoas guardam entre si. Todas se interpenetram reciprocamente, como bem o formulou em 1441 o Concílio de Florença: “O Pai está todo no Filho, todo no Espírito Santo. O Filho está todo no Pai e todo no Espírito Santo. O Espírito Santo está todo no Pai e todo no Filho. Ninguém precede a outro em eternidade ou o excede em grandeza ou sobrepuja em poder”. A SS. Trindade é, pois, um mistério de inclusão que impede de entendermos uma pessoa sem as outras. Elas surgem eternamente de modo simultâneo. Deus é Trindade desde sempre. Não é primeiro uno e depois se desdobra em trino como dão a impressão as duas tendências referidas acima, a latina (unidade da natureza divina) e a grega (unidade da pessoa do Pai).
Texto de Frei Vitório Mazzuco, OFM, e Leonardo Boff

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