1. A experiência trinitária de S. Francisco – Parte 2

Com efeito, em seus poucos escritos se nota uma perspectiva trinitária extremamente coerente. Quer dizer, não fica preso ao linguajar do monoteísmo pré-trinitário que fala simplesmente de Deus, comum nos discursos dominantes. Ele sempre qualifica sua fala em termos trinitários, Pai, Filho e Espírito Santo. Isso se nota em seus escritos como Admoestação nº 1, nas Orações de Louvor a serem recitadas em todas as Horas Canônicas, na Regra Não-Bulada e na Regra Bulada. Mais ainda, faz uma opção, certamente inconsciente, mas de grande profundidade teológica: estabelece uma certa ordem em seu discurso ou fala de três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, ou então começa sempre pela Trindade e daí deriva para a unidade (cf. Regra Não Bulada 21, 1; 16; 23, 32.36; 2Carta aos Fiéis 3; 3Carta 1,52; Pai Nosso 17) com expressões como essa “adorai o Senhor Deus todo-poderoso, em Trindade e Unidade”( Regra Não Bulada 21,2); ou “em nome da suprema Trindade e da santa Unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (3Carta aos Fiéis, 1). Com isso, Francisco se coloca no coração da experiência cristã de Deus, experiência de comunhão entre divinas pessoas. Essa experiência nunca teve muita centralidade na teologia escolar e na piedade comum dos fiéis.Se ele vê a criação como a grande casa paterna e materna de Deus e todos os seres como irmãos e irmãs da grande família divina, se percebe laços de fraternura e de consangüinidade entre todos os elementos cósmicos, é porque está sob singular influxo de uma experiência trinitária e comunional de Deus. Ele não precisa falar conscientemente sobre a Trindade. Ele é tão unido à realidade divina que é Trindade que esta se auto-revela no concreto de sua vida e de seu modo de sentir o mundo. Daí a importância da vida de S. Francisco que se transforma num texto teológico a ser lido, interpretado, desdobrado e traduzido para o enriquecimento da vida cristã e humana.

Texto de Frei Vitório Mazzuco, OFM, e Leonardo Boff

Este tema continua amanhã na parte III

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